O crescimento da banda larga está mudando o conceito de telefonia e facilitando o surgimento de pacotes que garantem mais facilidades de preços e qualidade nos serviços. Com as novas tecnologias, a concorrência entre as empresas tende a aumentar, junto com uma nova relação de consumo
Dependendo da freqüência com que faz ligações para se comunicar com parentes ou amigos que moram fora, um usuário de planos convencionais de telefonia fixa pode reduzir significativamente a conta no fim do mês. Em uma simulação feita com três opções de planos, a diferença encontrada chegou a mais de 200%. Esse é um dos resultados de dois novos recursos que estão promovendo um revolução silenciosa nas telecomunicações: a voz sobre IP (ou simplesmente VoIP) e a telefonia IP. Em algumas situações, a comunicação sai de graça para quem tem banda larga em casa.
Esse é o caso, por exemplo, da dona de casa Briolanja Carvalho, que conversa até quatro vezes por dia com a filha que está morando nos Estados Unidos. Através do Skype, programa de computador que permite comunicação gratuita (entre seus usuários) por voz e imagem, elas substituem as despesas que teriam com o telefone por um sistema bem mais cômodo e satisfatório, na avaliação de Briolanja. "A gente ainda deixa ligado direto, quando ela chega em casa me avisa", diz. Essa comunicação entre mãe e filha é um exemplo da revolução silenciosa que a tecnologia digital de transmissão de dados está promovendo nas telecomunicações.
Quando foi privatizada, a telefonia brasileira prometia um futuro de universalização do acesso com concorrência e tarifas razoáveis. A realidade que se apresenta, no entanto, é um pouco diferente desse quadro. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), existem hoje quase 12 milhões de linhas fixas ociosas por falta de demanda.
Na telefonia móvel, as notícias foram melhores no que se refere ao aumento de usuários, que chegaram à casa dos 100 milhões no fim do ano passado. Mas não muito alentadoras quando se analise o perfil dos clientes: 80% deles, de acordo com a Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel), têm linhas pré-pagas. Boa parte, formada por pessoas de baixa renda, têm o telefone mais para receber do que fazer chamadas por causa do alto preço das tarifas.
Mas para a população que têm acesso à Internet, pelo menos, as notícias são melhores graças ao recurso usado pelo Skype e outros programas similares: o VoIP. O conceito é bastante simples: se a Internet pode transmitir filmes, fotos, músicas, a comunicação de voz entre duas pessoas é tarefa perfeitamente possível. E se as pessoas já estão conectadas, não deve haver custo adicional significativo para fazer essa conexão.
Junto com o VoIP, outro serviço está se estabelecendo - a partir dele. A telefonia IP consiste em simular, via programas de computador, o mundo real dos telefones físicos ou estabelecer ligações entre internautas e usuários de linhas fixas ou móveis. E a um custo menor que o das tarifas interurbanas, já que a voz é apenas um canal de transmissão já estabelecida na Internet.
Para Eduardo Tude, presidente da Teleco (consultoria da área de telecomunicações), a tendência é que, no futuro, com o crescimento da banda larga, a telefonia fixa migre do modelo atual para o sistema VoIP, a exemplo do que está acontecendo com as chamadas interurbanas. "Hoje, você contrata o telefone fixo e adquire a banda larga. Esperamos a inversão: você vai contratar a banda larga e o telefone vem junto".
Pelo menos um exemplo prático disso já acontece no Brasil, para clientes residenciais. A Embratel oferece um serviço chamado Net fone para alguns estados das regiões Sul e Sudeste. Nele, o cliente compra um pacote de TV por assinatura e banda larga pela Internet e leva junto uma linha telefônica - onde pode até falar de graça com outros usuários do Net fone.
"Acredito que as operadoras de longa distância vão sucumbir se não procurarem oferecer outros serviços", afirma Edson Almeida, mestre em Computação e professor de telecomunicações do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). Ele avalia que a demanda crescente dos usuários por pela telefonia IP, para fugir das tarifas dos interurbanos, vai levar as grandes empresas de telecomunicações (todas elas proprietárias de grandes canais de banda larga) a criarem seus próprios sistemas de VoIP, a exemplo do que fez a Embratel.
Enquanto isso não acontece, segue a revolução feita pela combinação de usuários antenados, programas gratuitos e pequenas empresas de telefonia IP que a cada dia surgem pelo Brasil. Briolanja, que tem 53 anos, lembra sem saudade de tempos idos em que a comunicação com parentes em outros lugares era feita apenas pelo telefone. "Acho esse sistema melhor que telefonar, porque não tem chiado nem barulho. E você pode até ver a pessoa com quem está falando", diz.
Fonte: O Povo
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
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