terça-feira, 25 de setembro de 2007

O notebook virou telefone

Não é fácil saber em que parte do mundo está o paulista Cláudio Martins, diretor de tecnologia da informação da General Motors para América Latina, África e Oriente Médio. Seu endereço mais freqüente são aeroportos em cidades tão distantes entre si como Detroit, nos Estados Unidos, e Frankfurt, na Alemanha. Onde quer que esteja, porém, Martins sempre responde a chamadas feitas para o telefone fixo instalado em sua sala no escritório da companhia em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. Aparelhado com um notebook e um fone de ouvido, ele faz parte de um grupo de profissionais que hoje carregam em tempo integral um dos mais novos aparatos corporativos de comunicação: um sistema capaz de receber e fazer chamadas pela internet. Trata-se de algo semelhante a mecanismos como o do Skype. A diferença é que o sistema adotado por empresas como a GM é mais sofisticado e adaptado ao uso corporativo (com segurança capaz de rastrear grampos, por exemplo). Por meio desse sistema, Martins pode ser encontrado até por interlocutores inesperados - e não apenas pelo chefe ou por colegas de trabalho. Recentemente, ele atendeu à ligação de um encanador que havia sido chamado às pressas pela empregada que trabalha em sua casa para resolver um vazamento. "O detalhe é que eu estava em Londres, prestes a ir para a cama", diz ele.

Hoje, um time de 1 000 funcionários da subsidiária brasileira da GM - de vendedores que viajam o país a diretores que percorrem o mundo - usa um sistema de voz sobre IP móvel em seu notebook. Os primeiros testes começaram há três anos e, segundo Martins, logo os benefícios convenceram a diretoria a espalhar o sistema pela empresa. A comunicação por VoIP (voz sobre IP) móvel mostrou-se mais eficiente até mesmo do que os celulares, que costumam ter problemas de cobertura em alguns aeroportos e regiões do mundo. Outra vantagem é que todos podem conversar de graça entre os ramais. O sistema também torna visível, numa lista atualizada em tempo real, quem da empresa está ocupado ou não para conversar. "É tudo muito prático", diz Martins. "Disco apenas o ramal, em vez do número inteiro, e não tenho de me preocupar em digitar códigos internacionais para encontrar outros colegas em viagem."

Apesar das facilidades, o sistema ainda é empregado por poucas empresas no país e no mundo - sobretudo porque exige investimento em tecnologia e certa mudança cultural por parte dos funcionários. "A explosão do uso da tecnologia ainda não aconteceu, mas é uma forte tendência para os próximos anos", afirma Júlio Puschel, analista sênior do Yankee Group no Brasil. Estimativas indicam que o mercado de VoIP móvel vai quadruplicar até 2010 e movimentar 12 bilhões de dólares por ano apenas na Europa. Lá fora o mecanismo é usado, por exemplo, pelo Bank of America e pela chinesa Shanghai General Motors, associação entre a Shanghai Automotive Industry Corporation e a GM dos Estados Unidos. Fornecedores dessa tecnologia, como Cisco, Avaya e Siemens, também já adotaram o conceito.

É possível conectar-se ao VoIP móvel de qualquer lugar que ofereça acesso à internet banda larga, seja por meio de conexão cabeada, seja por redes sem fio, como as de cafés e aeroportos. Antes disso, porém, a empresa precisa instalar uma rede de PABX IP, para que todo o seu sistema de ramais fixos se comunique pela internet. Segundo estimativas de mercado, o custo médio para migrar para um sistema desse tipo é 300 000 reais, no caso de uma grande empresa. O investimento, porém, acaba compensando. Como a ligação entre ramais tem custo zero, os gastos com telefonia podem diminuir em até 30% numa grande empresa - um dos argumentos mais convincentes para estimular os executivos a abandonar o hábito de tirar o telefone do gancho para falar com o colega, seja na Índia, seja no andar de baixo do mesmo prédio.

Em alguns casos, a tecnologia é a única maneira de manter funcionários conectados em cidades mais remotas. A Alcoa, por exemplo, instalou o sistema de comunicação por notebook há dois anos para dez executivos que viajam bastante ou que estão alocados em regiões onde a cobertura das operadoras de telefonia celular ainda é precária. Um dos executivos que fazem parte dessa equipe é Nilson Souza, vice-presidente da divisão de produtos primários da Alcoa. Recentemente, Souza tem viajado com freqüência para Juruti, no Pará, de onde coordena a abertura de uma mina de bauxita na região. Dali, ele usa o seu notebook para participar de conferências via VoIP e transforma a sua máquina num escritório ambulante. Com a integração de diferentes tecnologias, em meio à floresta Amazônica dá para ligar a câmera, iniciar uma videoconferência e até mostrar uma apresentação feita em PowerPoint ao colega do outro lado. A qualidade do som, de acordo com Souza, é boa e nítida -- diferente de quando começou a usar o sistema, cerca de dois anos atrás. "Naquele tempo, havia eco e atrasos", afirma ele. "Agora não temos problemas desse tipo."

Fonte: InfoOnLine

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